Deitava-se a meu lado, toda a noite,
resplandecia naquelas fotografias engasgadas,
e rasgava-as com os dentes.
As chamas transformavam-lhe a pele sedosa,
macia, branca tez,
em bolhas lentamente afeiçoadas, claras,
que rebentavam na carne fétida,
e sorria,
face caveira, imponente,
dona do tempo, e imortal,
fácil, e fazia sentir-me tão bem.
Aqueles longos beijos,
com o pus que me deglutia a língua, ácido,
de olhos sem fundo,
apenas a escuridão imensa, esmagadora,
noite eterna, avassaladora,
abraçava-me,
obrigando-me a sentir todos os pedaços,
estilhaços do seu corpo,
vasos sanguíneos, implodidos,
naquela pasta lamacenta, verde,
enquanto que lhe lambia a ponta dos dedos,
e gostava.
Condizia com o sítio,
sangrando sem controlo,
toda a rapidez da vida a cada investida,
naquele lodo espesso,
das chamas que lhe subiam pelas costas,
e fazíamos amor,
trocando os dentes podres pelas palavras,
embriagados, exaustos - os nossos sexos,
sem consolo, naquela eternidade.
Deglutir a carne gasta,
numa só dentada,
cortar a tenra gordura,
naquele tom roxo, doente,
de prazo expirado,
por onde a vida passou os esguios dedos em tempos,
segredando confissões de amor descuidado,
em lentos jogos de azar,
na mesma mesa de autópsias,
naquela igreja morgue,
onde apenas o primeiro corte nos faz sentir vivos.
E vi-te mudar em ti.
Especialmente dócil, a fragrância,
aquele banquete,
deitados na terra de flores pintada,
abraços e outros artigos perdidos,
ao acaso,
em brincadeiras de sombras de luz,
algo bom, ocaso.
Como se tu nunca, tivesses tido essas asas.
J
2 Comentários:
engraçado. ando a desenhar algo mesmo à medida deste post. que sensação estranha.
acaba, envia, e eu coloco aqui. podíamos fazer uma BD macabra tu e eu han?
queijos com cheiro a chulé!
J