burlesco

domingo, 24 de fevereiro de 2008 às 03:18

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todos fingimos, despojados de esperança,
longe das comparações, de coroas criadas no momento de desprezo,
longe da luta, peluche querido,
ainda nos agarramos à lua cheia,
analgésico de toda a dor, que purga pesadelos,
e arranco o coração, veias e sangue que espirra descontrolado, que escorre pelas paredes, lexívia e o cheiro que não sangra, despedaçado em tempos que ainda me acordam todas as noites, em sôfregos nadas, passageiros de viagens esquecidas.

não consigo deixar de pensar que podíamos ter sido uma sombra, uma nuvem projectada na terra dos sonhos, cor-de-rosa, embelezados a folha d'ouro, criados para nosso contento, esmagados no nosso degredo.

é segredo.

fiel, há mais de 20 eternidades. 20 facas guardadas no bolso, para esfaquear cada um dos teus 20 olhos. estranho vento que nos bafeja, queda lesta de mergulho propagandeado. não consigo encontrar a rosa da manhã, as vestes de lobo que tantas vezes vestiste. fantasias de écrans prateados: tenta o teu tiro, gatilho, cão, morde, bala que sopra a justiça do vento.

sou o que sobra de mim, mergulhado na sombra de outro que foi, em nós.

desço até ao último andar, porta escura, entra, resgato o tesouro, não há como evitá-lo, como evitares andar pela corda do trapézio, sem segredos, não há raiva nas palavras apenas um resgate do sorriso que abandonei no elevador que me trouxe até aqui. nada me ama, uma brisa sopra-me. que espera de mim este mundo. nada. um breve desejo, inspiração divina de crise social, humana, em quem confiar e tudo isso. guarda-se tudo na gaveta, não vá o diabo surgir de uma nuvem disfarçado com o teu nome e tudo isso. sinto saudades de quando eramos dois.

e gostaria de saber como chegaste até esta memória, embrulhada em luzes de espectáculo esquecido, burlesco, e as tuas mamas que tapam a sombra da compreensão humana de tudo o que esqueci. não é impossível que tenhas esquecido os obsctáculos destruídos pelo desejo criado a pulso neste lado da fronteira, da felicidade, da indiferença lamentada nos cometas que passam.

lembras-te da noite que esquecemos, acordámos em esquecer?, era um dia infernal, escorríamos um para outro, novelos nas mãos, desenrolados na curiosidade dos nossos sexos, nascidos do ventre teu, faísca que brotava dos nossos olhos. ninguém conseguia perceber porque é que pertencíamos um ao outro. gostava tanto de te foder. e sei que não há nada mais sagrado que isso.

arrancar-te-ia os ossos das mãos se isso te fizesse ver.

não te quero segurar, prender o espírito. não há volta a dar-lhe. não me sinto culpado por ouvir as sombras que me segredam que chegou a hora, hora do termo, fim da sessão.

se há coisa que aprendi em regras que criaste em nós, é a dificuldade da criação, deuses deitados em lençóis viscerais, que segregam pus no seu amor.

imagino a cara surpresa de quem toma por certo o destino. quero perder o tempo que deixámos gasto no último abraço que podia ser doce.

a escuridão trevas de quem fomos.

dançámos
sem deixar
rasto
todas as noites
até à morte
de todas as estrelas
queimadas violadas
na loucura do som
dos teus gritos
enclausurados
no meu peito.


J

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