3 de abril

quinta-feira, 3 de abril de 2008 às 17:58

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3 de abril

Segurar-te os joelhos, queria,
ver o mar contigo, queria,
as amarras na nossa janela, lançar,
as probabilidades, morder,
rasgar-te o ventre com toda a força do amor.


Teresa, minha paixão,

esta noite sonhei novamente contigo. Julgava que me desfazia em água quando acordei, sobressaltado com mais uma cortina de bombas que fendiam o chão do outro lado da fronteira. Sonhava, como quando te conheci, que seguíamos pelo caminho na quinta do teu avô, na direcção do rio, a descer pelo campo, com a brisa fresca da noite nas nossas asas. Éramos tão jovens, lembras-te? As margens do rio embalavam-nos naquele vaivém lento que nos fazia dançar, traziam-nos para dentro de nós, escondidos nos ramos das árvores, com a lua ao topo, a sorrir para baixo.

Crescemos árvores, de raízes profundas nas mãos, a flor no sorriso do fruto doce no peito.

Escrevo-te novamente, quando a guerra se aproxima cada vez mais de mim, ainda escondido com o meu pelotão nestas trincheiras cheias de lama e homens, assustados, como no dia em que saíram do ventre das suas mãe, à espera dos minutos que passam até à morte certa. Temo que nos chamem para a frente da batalha hoje, e de não te voltar a ver, nem sonhar com o brilho dos teus cabelos, deitados, naquela noite tão nossa.

Escrevo-te novamente, porque sei que vou morrer em breve. Sinto-o nos ossos. A noite esvai-se, trazendo a luz com que te escrevo estas últimas palavras. Perdoa o vento por não conseguir levar até ti as palavras com que te beijo, esta última vez.

Até um dia,


J

3 Comentários:

4 de abril de 2008 às 21:40 Anónimo escreveu:

J, gosto mesmo de ler estes teus posts.
Sinceramente, pouco me interessa a sua semelhança ou não com a realidade, porque o que interessa é a força e a intensidade que transmites nas tuas palavras. Não estou a exagerar e espero não soar a pedante. À semelhança do anterior, li este post mais do que uma vez.
Também gosto muito das ilustrações - a de dia 1 e esta fizeram-me ficar a olhar bastante tempo. (Devia ter-te pedido uma para o post das larvas :))
Ler os teus posts faz-me pensar que os meus são uma rica treta.
Bem, espero que este seja um fim de semana com boas notícias...
Beijinhos de mim e da galinha Clotilde ;)

Eina pá Leonor,

qual pedante, agora estás só a ser simpática :)

Obrigado p'lo apoio, e acima de tudo pelas risadas. Espero um dia poder-te compensar o esforço com uma visita ao estádio da luz :)

paz!


J

7 de abril de 2008 às 20:46 Anónimo escreveu:

Ouve, eu NÃO sou simpática nestas coisas. Acrdita em mim.

OK... Ok... Já fui ao Alvaláxia e a única reacção visível foi uma leve erupção cutânea, por isso, penso que aguento ir à Luz :)

Beijos e tal

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