Saber que se morre, devagar naquela morte lenta.
subia-se o monte devagar, passeando pelas nuvens acima, regadas pelos ventos da primavera, que empurrava aqueles dias de sol para as nossas mãos, sempre a construir castelos e a criar maremotos nas nossas guerras de piratas, lembram-se?
corria o mundo para nós, naquela vasta ideia de não termos dono, sermos livres e senhores absolutos, de todas aquelas chagas que transportamos mais tarde, entediados da vida e daquilo que nos oferece, demasiado embriagados para nos recordarmos que os castelos se constroem nas areias das praias que conquistamos e não nas margens das nossas impenetráveis ilhas, bolhas de bolor e pús, que cimentamos a cada passada larga para a cova.
quando velejávamos rio judas abaixo, pelas nesgas de relva que brotavam dos pântanos, reino de pijamas e de capas gastas, em buscas por tesouros por ali perdidos, caveiras e restos de outros vilões ali enterrados, perdidos na busca necessária em tornar a vida misteriosa e rápida, sem distracções daquilo que importa, descíamos o rio de sorriso nos lábios.
naquelas tardes, enchíamos os balões d'água que trazíamos nos bolsos rotos, cheios de cromos e berlindes, escudos e espadas, talvez um rebuçado ou outro - o tal dente fácil, e naquele sol que brilhava forte para nós, descarregávamos aqueles gritos de guerra, batalhas em planícies deitadas de barriga para cima, pela noite dentro, em sonhos e outros jogos.
trazíamos a vida nas feridas com crosta nos joelhos raspados e nas mãos pretas de terra. como é que passámos disto para ovelhas à espera do matadouro?
huh. eu sei eu sei!
J
como ovelhas
PS: a foto foi tirada em mértola e não nas beiras, caso estejam interessados. ou seja, estas ovelhas são mais simpáticas. i dunno why.
1 Comentário:
O importante é não deixar que o que está dentro de nós morra. E não censurar a vontade de rir alto ou de dar as mãos e desatar a correr, porque sim. Ou de roubar um beijo à socapa, quando ninguém está a olhar...