Paz & algo mais

domingo, 4 de maio de 2008 às 02:55

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Ela queria vê-lo nu. Despia-lhe a língua primeiro, roubando a atenção dos olhos, vagamente lembrando-o da razão de estar vivo, saboreando cada momento de vitória daquele jogo de resultado viciado. Esperava ele pela ordem última, entrega cega e embriagada naquele doce momento que julgava seu, campo de batalha do qual julgava ser general imperador.

Os dedos dela vergavam-no à sua vontade, imaginando-a sua, acreditando naquela mentira folgada, fugaz névoa que lhe rasgava as roupas - és minha - dizia ele, encostando-a à parede, enquanto que ela lhe negava os lábios carnudos, rindo-se lasciva, guiando-lhe a boca para o pescoço, aquele deleite de carne viva, sentir-lhe o coração bater, o aroma de ópio, em afogamento selectivo.

Havia razões para acreditar. As pernas esforçadas desfaleciam, o sangue corria quente pelas veias, conseguia sentir a vida largar amarras lentamente, com destinos mais a sul, enganado pela vulva, rubor, mergulhando a língua, lentamente sufocando a morte dos lábios. Os joelhos tremiam-lhe, olhos fechados, focados, e ela prendia-o ali, naquele éden de pernas, suor, o animal humano, frágil pulsação carmim, comandando o exército de sensações que lhe tomavam o corpo, empurrando-lhe os dedos para dentro, contorcendo-se em mil sombras, flashes de uma sobrevivente, naquele seu escravo que a bebia à velocidade a que ela mentia.

Sorria, o plano era perfeito. A verdade, e mordia os lábios, e ele fácil, de dedos e músculo, a saliva junta naquele muco espesso que os pintava de luz, a cada sombra que passava. Era dela, até ao clímax, uma e outra vez, dobrava-se sem vontade, sem força para resistir às ondas de prazer que lhe atravessavam o corpo, rápidas, mas lentas, frágeis, mas esmagadoras, e era bom, era tão bom. Dançava com a sua sombra, pintando um dragão no tecto daquele quarto.

Cansada, não precisava mais dele, gasto. Cansada, contou-lhe toda a verdade, num só golpe, a mão erguida, braço estendido e o luminoso reflexo da lâmina à luz, desferida na jugular. A verdade, cansada, esvaía-se a seus pés, sangue, lentamente enganado, com um sorriso nos lábios, morto.



J

2 Comentários:

4 de maio de 2008 às 10:47 Anónimo escreveu:

Ó pá. Os teus posts andam muito crípticos! Primeiro, são as glocks, as bolas ao poste e os cartões do SCP. Já para não falar "do que está do outro lado da ponte". E agora, a mulher conta-lhe a "verdade". Que verdade? Que verdade, meu? ARGH!!! Está bem escrito, está bom e lê-se com gosto. Mas depois fica-se assim, neste estado. Acho que fazes de propósito.

Muito bons estes últimos posts "Paz". Quase que temos que limpar o ecrã...

mas existe alguma outra verdade? :)

é de passar demasiado tempo nos transportes públicos, a imaginar como infligir uma morte dolorosa ao passageiro que se senta ao lado.

paz!


J

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