Sentia a falta do doce ronronar do metal da ponte, saudades daquelas ruas ásperas que serpenteavam através do coração da cidade. Havia noites em que me segurava perto da janela, enquanto que ela olhava para mim, gulosa, à espera do momento certo para se saciar, em lentos movimentos da minha carne quente. Apagava o cigarro e respirava fundo, projectava a cabeça para trás e começava, primeiro a mão na perna, pouco acima do joelho, com os dedos - os malandros - a sentirem o todo do interior da minha côxa, e suava. Aquele ritual era tudo para ela.
A mão direita juntava-se também, bem aberta, com os dedos garra, acariciando com fervor o meu escroto, ao de cima das calças, tentando acordar o resto do corpo - e conseguindo-o. Os seus olhos famintos, abriam-se e brilhavam ao sentir cada investida do acordar da pila latejante, dormente, em espasmos de prazer e calor, que lhe diziam - é hora.
Olhava-me nos olhos. As suas mãos já me desabotoavam as calças, e os joelhos dela, no chão, com os ombros apoiados nas minhas pernas, a separá-las, violenta, para não se intrometerem entre ela e aquele naco quente, delícia que já fervilhava nas suas hábeis mãos, carne ansiosa por carne e o êxtase da sua língua provava-o.
A cidade olhava-nos curiosa, feliz, com o desfecho anunciado.
Ela começava sempre de baixo para cima, escorregando a sua língua pelas veias salientes que esperavam já a sua respiração quente, ofegante, que me arrancava em pedaços, rasgado e torcido, cuspido naquela fracção de segundo, e segurava-lhe o cabelo com força, convicto, para não me perder no feitiço daqueles olhos que me reflectiam, moribundo.
Segurava-me com as duas mãos e começava, primeiro lenta, naquela dança cíclica, embalo fácil da maré da sua saliva que lhe escorria pelos lábios, abundantemente, queimando-me em todas as ondas, letárgicas, quando embatiam de encontro ao prepúcio saliente e inchado, pintado rubro por todos os nervos daquela língua que brincava e atiçava fogo que ardia ali, entre nós.
Os pelos na nuca eriçavam-se, os espamos tornavam-se gemidos e o olhar inocente, a metamorfose da imperadora meretriz, concubina da carne que fraquejava a cada carícia, cada vez mais violenta, rápida para ser frenética, e os dedos cravavam-se fundo no parapeito da janela, com vertigens daquele vôo alto - e ela gemia e gostava, pedia mais e gostava, rasgava-me a carne naquela corrida pelas portas do inferno e gostava, perdia o controlo e gostava, afundava a boca em naufrágios sem âncora, uma e outra vez, feita tempestade a embater naqule farol, fálico, e gostava de sentir a saliva quente que lhe sobejava, soberba.
Escorria-lhe o meu esperma quente nos lábios e gostava, abandonada à sua sorte.
Puxei calmamente o meu casaco, clímax, e tirei a glock do bolso, fácil, encostando o frio metal do cano àquelas bochechas saudáveis e rosadas, e sorvia lenta, olhou-me brincalhona, no instante antes, e puxei o gatilho.
J
2 Comentários:
Parece o argumento de um filme sobre o Zodiac ou assim, mas escrito do ponto de vista dele.
Muito forte, meu. Muito forte. E bom.
o Zodiac era um menino. afinal de contas, eu sou o filho do demónio E o messias ao mesmo tempo. dois em um.
e adepto do benfica também, é bom não esquecer.
obrigado amiga, paz!
J