Velha verdade queimada viva, nas sombras que engoliam as tuas palavras, escondida na leve brisa, soporífero forte, que emanava aquele ardor grave, pendor que balançava nas nossas cabeças, leve, pronto para desferir o golpe final, sempre pronto e hesitante, espreitava a mínima falha na enorme esfera de metal polido que explodia a cada instante, frágil, em mentiras, as tuas.
E hoje, esta noite estamos mais perto de casa, neste bólide vermelho que navega as estradas à velocidade da luz, pelos mapas deitados por terra que indicavam o caminho para lado nenhum, esvaídos de qualquer consciência, boa ou má - e agarravas o volante com força, sangravas dos olhos, rindo histérica, com os lábios rasgados através da tua face, fantasma negro, pintada de cabelos que flutuavam etéreos na tua caveira pálida.
Caías em mentiras, uma e outra vez.
Velha verdade vem até mim,
abraça-me rasgada, soberba na noite que me acaricia e que me leva até ti,
velha verdade vem até mim,
segura-me as mãos e ajuda-me a rezar, limpa-me as feridas abertas com sal,
velha, vem até mim,
fica comigo e mostra-me o teu negro interior, deixa-me beijar a tua carcaça gasta,
vem até mim,
rompe a luz com o teu manto e leva-me.
Deixa-me lamber-te os dedos e rugir o teu nome de baioneta em punho,
estou cansado do cheiro da pólvora que ainda estala nos meus ouvidos,
daquelas batalhas que pintam os amantes com negros corações,
trata-me bem e lembra-te de mim, eu esqueço-me, vem-me buscar.
Derruba os muros, vem lesta e ágil, pelas trevas do amanhecer,
embrulhada nas boas novas, nos trovões que hesitam em cair dos céus,
traz contigo as vinte-e-nova lâminas para um festim com os meus ossos,
ardem alto as fogueiras da saudade pelos teus lábios, de outros tempos.
J
soporífero forte
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