Título IV

domingo, 19 de fevereiro de 2012 às 23:36

Sou a aldeia,
o silêncio empurrado do vale,
encosta abaixo pelos campos semeados de geada.



Ouve o riacho que percorre a nuca,
os nervos que amainam com o crepitar do fogo,
o incêndio das lembranças da tradição secular.



Sou o cheiro bruto das romarias,
das lareiras que aquecem os tímidos esqueletos de inverno,
afagados pelos fartos seios das mulheres da terra que se oferecem férteis à passagem dos elementos,
o fruto doce e sem artificies.



És o semblante da morte que carece de tempo,
o anoitecer que tarda a chegar mas que logo chega,
o abandono dos campos que morrem sem serem lavrados,
os estábulos silenciosos de portas quebradas e chocalhos solteiros.



És o inverno da saudade das casas onde não ecoam os risos das crianças que não cantam as janeiras ou brincam ao pião.



És a lágrima que desvanece as memórias vagas,
a tranquilidade dormente das nossas bocas.



J

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