Texto XV

sexta-feira, 29 de junho de 2012 às 09:10

Sabes do momento em que tens a luz na extremidade dos pés que te impele mais alto, mais rápido, melhor e maior, és cometa à deriva no firmamento, és estrelas e pó estelar impresso nas palmas das mãos, a fogueira e a labareda no peito, o fácil sempre difícil sempre bom sempre teu, incólume e invulnerável às tormentas e aos relâmpagos que se despenham na linha do horizonte, és capitão sem medo de um barco que navega pairando acima da tempestade.

Sabes do momento em que sentes o vento na nunca e saltas, saltas para o abismo para o abraçar, e agarras o mundo de braços abertos com a fúria da vida presa nos dentes cerrados, o momento em que fechas os punhos porque sabes que é a tua luta, a tua vitória na derrota impossível, no telhado onde miras as estrelas que lhe recortaste do peito e que colaste nos olhos.

Sabes do momento em que as pálpebras fecham e o sangue flui feito feixe fantástico de energia púrpura, e os pés dançam e as pernas bailam e todo o teu corpo segue e o coração palpita e a neve que cai te cobre a face, a tranquilidade daquele momento em que todos os sorrisos que te ofereceram ao longo da tua vida se aglutinam num só e incendeiam a memória do futuro que escreves para ti com as faúlhas que sobem no vento que levantas, no caminho que trilhas para ti.


Saboreia o momento em que te multiplicas e a tua pulsação pára por um segundo
                  quando segues mais vivo que a vida,
                  e a tua voz é mais alta que o grito que abandonaste no dia em que nasceste.


J

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