Resgata-me a boca naufraga na maré vespertina
serve-me de âncora viajante — balão vermelho que se esfuma nas nuvens,
quero embalar nessa dança trôpega,
no caminho de cinzas que os meus passos deixam para trás,
pedaço a pedaço engulo o mundo,
no movimento perpétuo desta alegoria contada.
Resgata-me os braços à deriva na madrugada,
atira-os ao rio, acende velas,
deixa que o mar os devolva em osso branco
gasto, as marcas do passado, sorrisos e o choro, marfim talhado,
rodeia-me o rosto com a tua boca,
ateia e arma o explosivo apocalipse, sou pavio molhado,
restos de ser incandescente.
Resgata-me os olhos das órbitas celestes nocturnas,
quero ver o mundo, comer-te o peito,
regar-te com gasolina e abraçar-te,
e ser a labareda que dança entre as faúlhas,
o fumo negro dono da noite,
— a madrugada
e o incêndio que naufraga na garganta da verdade.
J
Texto XIX
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