Sou a fome
a verdade alheia,
a bochecha corada rosada
do beijo que roubo à boca que mordo,
sou o arrepio na barriga
a gula que finda o fastio
a verdade alheia
o olho que olha dobrado para dentro
postais ilustrados de um louco.
Sou o preâmbulo pentatónico
embrulho de azul vermelho
pétalas nos olhos
e a verdade alheia
o voyeur que se partilha atrás de janelas
a boca emprestada o corpo emprestado o enlace enleado
em amor à hora marcada, cauterizado na memória improvisada,
à esquina escura da viela estreita,
a mão vai-vém de dedos apertados.
Sou o objecto
abjecto,
a cor rosa a cor púrpura
a desilusão do real de que ninguém se recorda
a verdade alheia,
a hipertermia magnética relativa à distância de dois pontos no universo que coincidem sobre si, no mesmo plano do espaço-tempo
— ou a divisão do átomo,
um anseio que não é saciado, descartado,
a lágrima que não sai para fora
as curvas do teu corpo a balançarem na minha ponta-e-mola.
Sou o medo do espelho
a verdade alheia,
a bochecha corada rosada impressa na retina,
o destino branco, um pedaço de destino branco,
a reza vítrea, o fumo nos olhos,
a noite líquida,
a madrugada alheia,
o corpo todo pendurado na boca,
o caminho para casa.
J
Texto XVIII
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