Sujeito o papel a borrões que não consigo desmentir ou esconder. Planto alarmes a cada parágrafo onde abandono sentenças em que a ignorância alheia selecciona apenas aquilo que consegue entender. A histeria colectiva sobre o mito da minha morte é gravemente exagerado.
—
Tomo o vasto como meu
é destino certo
ou serpente alada.
Ignoro a película que filmas em sessões copiadas das matinés no Cine Paraíso,
estou demasiado focado no pequeno detalhe que cresce entre as pedras da calçada.
Sou o corpo desmembrado, sem alma, ser de sombra, um faz de conta de sorrisos,
epidemia fingida.
A caneta continua a escrever largas porções de ópio,
e escrevo sobre a vida enleada, torneada e esculpida na diáspora.
A taça de tinto, a abaladiça num sopro, desmaio.
Morte sem mácula.
—
A verdade é que não sei explicar o oceano profundo onde existo,
desejo este — ser aquático; fecho os olhos e inspiro o azul.
A fina centelha estelar que me embala os sonhos
brota nos terramotos da tua mão.
—
Sonho que morro.
Se morrer alguém estará/sobreviverá para carpir todo o potencial da vida que sonharam para mim.
A verdade é que não foi nesta vida que nasci.
Decomponho-me em todas as memórias que depositaste neste peito de costelas desarrumadas.
Sou o alvo em chamas, o punho violento que cai no momento do knockout.
—
O vinho arde-me nos olhos
e nunca sei quando me seguem
e a verdade soa veloz, tempestade,
luzes do palco,
cego,
ressalvo a mudança em mim,
sou eu,
teu
— o incrível voo do cometa desesperado em cair.
J
Texto XX
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