Amon Tobin - It's a Lovely Night
o segredo tinto derramado sobre a toalha de mesa
e suspiras
o copo cai-te da mão
redondo
na queda
resoluto porque no final só dançam os estilhaços
+
o corpo resvala-te na nuca
e balanças os ossos na madrugada que chega
molhas a boca na atenção retirada de uma revista antiga
inspiras
os dedos cerram-se como as costelas do cadáver a quem retiram o esterno
+
apodreces no teu sítio frenético
atordoado pelo envidraçado das cores soltas
às teclas negras do piano
tentas fechar os olhos
mas o negro é demasiado ruidoso
e as estocadas não te matam
+
ergues um braço, o direito julgo, e tentas pendurá-lo na parede, tentas escrever mentiras, tentas o mergulho encarpado para o chão, mas o teu corpo imóvel é a massa uniforme na vontade letárgica do engano, e nem a gravidade te atura.
+
Flutuas
e suspiras outro segredo tinto.
Dói-te o lado esquerdo do peito, pensas; já nem a morte te chega.
—
J