Texto XXV

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012 às 00:24

o meu planeta tem duas luas
duas luas que guardas nos teus olhos
minto.

no meu planeta não crescem árvores em pranto

tenho larvas nos olhos, vês?

Quando te conheci tinha dois anos. Era primavera, trocávamos as vezes no baloiço do parque, havia um barco e um avião, velhos e ferrugentos, estávamos descalços e cheirava a terra molhada. Sorrias sorrias sorrias. Para mim, só isso. Éramos brincadeira, manchados de terra, felizes no nosso trepa trepa escorrega escorrega, no fazer sem pensar, no cair e levantar, era fácil, tu eu, a vida, o socorro, os nomes, as bocas, os olhos, eram fáceis.

E agora vendes-te a quem licitar mais. E eu ainda tenho o teu gosto na boca.



Dizem que gosto de cadáveres. É mentira. Juro.



Vejo as luas e sei: todo o destino percorre o passado e futuro que escondes nos teus medos e por aquela que morres. Deixa, se sonhas que morres é porque no fundo, sabes que irás acordar. É tudo tão simples. E incomensuravelmente difícil. Ah, se ao menos soubesses o quão bom que é adormecer nos teus braços, acordar com o bafo quente, doce, da tua boca, o sorrir porque te danço sem razão, porque é bom saber que a minha memória ainda é bem-vinda nos teus braços.

Não te sei explicar o que se sente quando o amor nos aceita sem razões. Pode questionar, ter ciúmes, amuar. Mas no fundo? ainda é o mesmo amor, desembrulhado; e isso é tanto.



Se eu morrer amanhã ou depois, levem o meu corpo a jantar, beber e dançar, escrevam-lhe cartas de amor de morte porque de amor vivo nunca recebeu notícias ou postais. Repartam a carne e mordam o osso, dá sorte. Com os olhos podem fazer bonitos colares. Evitem o desperdício da morte; a vida já não vai a tempo.

Peço desculpa: se eu amo é porque não o sei fazer com compromissos. Por mim ainda estaria no escorrega a comer gelado contigo, a espreitar por debaixo da tua saia.



Os meus ossos fedem ao passado. Rangem; velhos. O Futuro é miseravelmente igual. Resta-me apanhar lenha para a fogueira, esperar pelo solstício. Dizem que este ano irá ser soberbo. Quando a cegueira me abandonar podem pintar-me um desenho em forma de segredo. Até lá, olhem-me nos olhos e, de faca na mão, cosam-me as mentiras albas que me cercam as vísceras às vistas. Sem medos, sem medos.



É um desespero muito grande quando já sabemos o fim do livro, como acaba a história, e como se repete, vezes sem conta, num tédio escrito a sangue e merdas que julgamos serem a verdade absoluta, com alguma ironia aqui e ali, recheada de enredos de contos muito maus, em plágios sem imaginação. E é aí que nasce a vontade de pousar o livro e seguir caminho.

E verdade seja dita: o meu único ritual pagão segue outra... hm... religião.




J

1 Comentário:

escreveste Futuro com F maiúsculo.

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