A saudade é alimento da solidão
um roubo de vergonha da salvação
do abraço, do momento em que a voz do vento enche o peito
e o sorriso é alento
— na fotografia guardada
— no eco do pensar
o resguardo que a cabeça encontra junto ao bater do peito
— que já não bate
— já não respira
mas ri, e sorri, e é ensurdecedor
e leva da boca o fôlego,
e o silêncio do vácuo
— fico sozinho com a transpiração que me desce pela nuca
e a saudade come, e a saudade morde
e mente e conta-te segredos ao ouvido
e come e morde e explode
e geme e morde e come
e quando te arranca o último pedaço de carne do esqueleto
do teu branco, nu esqueleto,
ainda ouves o leve murmurar do vento que desliza
serpenteia serpente
e te envolve no abraço da saudade
que se alimenta da solidão
—
se ao menos deixasse de ouvir o teu nome entre-dentes, à noite...
—
a saudade mancha-te as mãos em acordes de preto
escorre pela garrafa de tinto
injectada nas veias
balança na torpe melancolia onde dança
celeste
sempre enferma, débil
sem nunca dormir longe, vazia,
de cores tão verdadeiras,
perfeitas na mentira.
Tu és absoluto, um caos esquartejado pelas
bocas que te recordam,
e eu tenho ainda este abraço teu,
esta vergonha ou fraqueza minha
neste amor que é meu.
—
e por fim, se não tiveres para onde ir,
não te poderás perder
porque quando o teu corpo se transformar em geada
e levares à boca estas palavras
lembra-te:
enches o peito de estrelas porque és infinito.
—
—
J
Saudade
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