Texto XXIX

terça-feira, 26 de março de 2013 às 14:45

Há mais que o acordar, o revirar e dobrar o corpo na cama, para um lado primeiro, para o outro depois. Olhar o tecto e contar as razões para não mexer um músculo, para adiar o inadiável, mergulhar no desejo da eterna letargia, do eterno equívoco a que chamam vida.

Minguas a respiração com o peso que levas na alma e aceitas o inaceitável. Lentamente esticas as pálpebras e deixas as nesgas de luz que penetram pelas portadas das janelas entrarem pelo teu crânio dorido. Sentes os olhos dilatarem com a luminosidade e em contraponto, a dor de cabeça a aumentar, as têmporas a colapsarem - assíncronas, e riscos vermelhos cegam-te a vista em síncopes convulsas.

Respiras fundo.

É amanhã - dizes baixinho para ti, em confidência - é amanhã que renasço em mim. E rastejas para fora dos lençóis - derrotado e nu - mas só mais um, só mais este dia.



J

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