As notícias arrombam a porta em fúria, gritam
AS NOVIDADES no topo dos meus pulmões
acotovelando-me as bochechas desfiguradas — abocanhadas na fricção quadriculada dos azulejos semeados no chão
A DOENÇA é óbvia DEMÊNCIA
as nossas fontes anónimas comprovam-no,
a vida é testemunha
e quem viu diz que é assim que tem que ser,
que o pobre rapaz era demasiado novo
MAS JÁ HAVIA CUMPRIDO O SEU DEVER NESTA TERRA
pobrezinho.
Enfiaram tubos de plástico transparente e rodopiaram plo ar instrumentos delicados
CONTINUA NA PÁGINA TRÊS.
Tentei enviar comunicados enquanto debelava as péssimas notícias
mas o telex estava avariado e os telefones desligados;
CONTINUAÇÃO DA PRIMEIRA PÁGINA
a anestesia foi aplicada com sucesso após a primeira incisão
os doutores congratularam-se com a instalação artística e apelidaram-na d’“o sorriso do suíno”
a noite láctea roubou os olhos do paciente e viramos a página
que esta havia sido abruptamente interrompida, recortada à volta de uma nota de óbito ali publicada.
—
Por fim consegui resgatar a palavra e preenchi dois formulários em triplicado
brandindo a caneta por entre os cordões umbilicais violeta, torcidos em armações de ninhos montados nas minhas costas
onde as notícias desfiavam ainda as suas habilidosas verdades
e se eu morrer no mês de maio
que as verdades amarrotadas ganhem o sabor da carne que as fecunda
há muito perdido no sémen ensanguentado,
polido nas bocas erectas à tesão das vossas gargantas.
—
J
XL
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